O imperador questionou a construção do Eixo Monumental, que julgou faraônico. JK lhe disse que se tratava de uma obra para o futuro. Com um sorriso e uma frase de aprovação Selassie passou o chamegão na audácia do anfitrião: “O necessário qualquer um pode fazer; o diferente é privilégio dos grandes homens”.
No centro do continente, cercado por todos os lados pela América do Sul, Mato Grosso precisa do bom faraonismo administrativo para assegurar rotas terrestres, fluviais e aéreas que lhe permitam escoar produção, importar e, claro, abrir passagem ao vaivém de sua gente.
Avalio que o perfil do eleitor do governador diplomado Pedro Taques tem em sua essência a esperança da moralização administrativa. Lamentavelmente, a esfera estadual, muitos municípios e a Assembleia Legislativa atravessam momentos de profundos desgastes e precisam da oxigenação que todos os honrados que bebem água sabem que é imprescindível e não pode demorar a acontecer.
Pedro Taques – creio – foi eleito em nome da esperança de mudança, de mudança ampla, inclusive passando pela relação do governo com a Assembleia e a bancada federal. O desejo de mudança está estampado no semblante de cada um, mas não arriscaria dizer que a esperança que isso aconteça também esteja no íntimo do cidadão.
Não é fácil mudar uma estrutura tão arraigada quanto a de Mato Grosso. Essa mudança torna-se ainda mais difícil quando o líder que se propõe a fazê-la se vê na obrigação de tentar promovê-la contando com a participação de antigos integrantes do sistema que deve ser combatido.
Mudar uma estrutura de Estado é tarefa muito difícil, amarga, azeda num terreno onde cada um defende seu interesse e nem todos incluem em seus interesses os interesses coletivos ou do Estado.
Não diria que a temporada dos discursos passou, porque ainda restam os pronunciamentos na posse. Porém, daqui a 11 dias Pedro Taques terá que trocar os compromissos pela prática. Claro que o cidadão lhe dará um voto de confiança para num curto período ajustar as peças de sua engrenagem. Isso, porém, não significará um salvo-conduto para que o novo governador dedique boa parte de seu mandato a auditorias e contagem física do rescaldo do governo que herdou.
Tomara que Pedro Taques mude a situação e tenha alguma carta na manga para o campo administrativo, porque governo não se faz somente com organização funcional. Não estou confiante e até duvido, mas desejo que Mato Grosso renasça no Ano-novo, ainda que sem JK.
EDUARDO GOMES de Andrade é jornalista
eduardo@diariodecuiaba.com.br
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