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domingo, 21 de dezembro de 2014

ONOFRE RIBEIRO Rouba mas faz

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Não é só uma frase. É uma cultura brasileira. A frase pertenceu ao ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros. Vale contar a história dessa frase que nas décadas seguintes se incorporaria à política brasileira como um sinal de grande mérito. Entre as denúncias estava o “caso dos Chevrolets”. Em 1949, quando governador, Ademar teria comprado, com dinheiro público, 11 automóveis e 20 caminhões da General Motors. Depois de efetuado o pagamento, teria pedido à montadora que refaturasse os veículos em nome de outras empresas. Em seguida, os carros e caminhões teriam sido distribuídos a seus parentes e amigos e a firmas de sua propriedade. Cerca de 15 dias após as denúncias, o Ministério Público abriu um processo contra o ex-governador e pediu sua prisão preventiva. Deu em alguma coisa? Nada além do folclore que acabou durando pra sempre como o cínico “rouba mais faz”.
No mesmo estado de São Paulo ninguém usou mais e melhor essa frase do que o também ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf, perseguido com escassas punições efetivas. Logo, no Brasil roubar dinheiro público é um negócio bom e de escassas punições. O dinheiro nunca é devolvido e vai se perpetuar em abastadas famílias que ao longo do tempo são absorvidas pela sociedade como gente respeitável.
Pensar que em Mato Grosso é diferente, sonho! Igual, se não pior. Mesmas pessoas hoje ricas e respeitáveis com passado igual ao daqueles políticos paulistas citados.
Porém, nestes dias atuais os fatos estão sobrevivendo ao poder dos “fazedores”. Começou com o Ministério Público. A imprensa deu guarida, e as denúncias tem chegado às ruas. O Poder Judiciário nunca julgou com seriedade a corrupção. Ao contrário. Ao seu modo, entrou no jogo. Na semana que se encerra aposentou um juiz de reconhecida recorrência na venda de sentenças. Depois de um processo loooongo e corporativo! Denúncias não faltam...!
Mas as chamadas redes sociais chegaram detonando os limites impostos à imprensa, como pressão econômica e até mortes de jornalistas. As redes sociais se multiplicam fora do controle formal e não precisam de concessão pública de rádio, TV, e nem de CNPJ. Basta um smart ou hi-phone e uma denúncia sai pulando de aparelho em aparelho sem limites de espaço, de tempo e nem de censura.
Esta nova linguagem está assustando a corrupção, ainda que ela seja mutante e possa mudar em muitas caras. Mas nunca será como antes. Contudo, a cultura certamente continuará por mais algumas décadas neste Brasil descoberto pelo esperto Pedro Álvares Cabral há 514 anos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br   www.onofreribeiro.com.br

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