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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Anaíde Barros de Souza, CONTRA O CRIME “Já mandei mais de 200 criminosos pra cadeia”

“Já mandei mais de 200 criminosos pra cadeia”
J.R.Trindade
Da Redação

Um toque feminino dentro da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). Um toque da primeira mulher a assumir o posto de titular de uma delegacia antes tipicamente machista. Anaíde Barros de Souza, de 43 anos, bacharel em Direito, divorciada, mãe de três filhos: dois homens e uma mulher, natural de Mineiros, em Goiás, na divisa de Mato Grosso, chega com uma filosofia, ou um sonho: tornar a DHPP cada vez mais científica em busca de uma credibilidade que já chegou aos 70%. Caiu nos últimos tempos, mas já está crescendo de novo. Quase oito anos na DHPP, Anaíde Barros tem agora pela frente um novo desafio: chefiar um monte de policiais ávidos em desvendar crimes de homicídio. Crime cuja pena de condenação é a maior de todos os crimes.

CO Popular – Qual é a nova cara da DHPP e a nova filosofia de trabalho da delegada titular Anaíde Barros?
Anaíde Barros - Estamos evoluindo cada vez mais para podermos resolver cada vez mais casos. Alguns, muito misteriosos. Mas, que com a força de uma equipe a gente está chegando lá. Quero destacar que um dos meus sonhos sempre foi poder trabalhar ao lado de pessoas que como eu gostam de fazer o que fazem e por isso não tem tempo ruim. Estamos dentro de uma Polícia Civil que se aproxima cada vez mais da perfeição, pois está aglutinando em seu quadro pessoas inteligentes e de uma vontade descomunal para o trabalho de investigação. Aqui a investigação é diferenciada. Estamos trabalhando com a inteligência e usando modos científicos modernos. Aqui não tem grito. Aqui tem prisões preventivas e temporárias.

CO Popular – A senhora almeja ser diretora geral da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso?
Anaíde Barros - Sinceramente não. Porém, se isso vir a acontecer eu trabalho para isso, para estar preparada. Agora o meu maior sonho mesmo é ver essa Polícia unida. Trabalhando 100% científica, com 100% de credibilidade, pois nenhum assassino merece ficar impune.

CO Popular – A senhora vai completar oito anos de DHPP. Qual o balanço dessa carreira que agora chega ao topo?
Anaíde Barros – Minha carreira é trabalho. Agora posso olhar para trás e afirmar que já conclui só aqui na DHPP mais de 500 inquéritos. Mais de 70% deles com autoria identificada. Posso afirmar, eu mandei mais de 200 criminosos para a cadeia. Desses, mais de 80% são casos de muita repercussão em Cuiabá, Várzea Grande e no Estado.

CO Popular – Qual o caso que a senhora trabalhou na DHPP que mais ganhou repercussão?
Anaíde Barros – Muitos. Perdi as contas. Para mim todos são iguais, pois todos merecem ser investigados com todo o respeito. Mas não podemos deixar de destacar o Caso Maiana, a Morada da Serra. O caso da empresária Maria das Neves, também na Morada da Serra, entre outros.

CO Popular – A DHPP está estruturada? Falta alguma coisa?
Anaíde Barros – Sempre falta alguma coisa. Mas podemos dizer que a DHPP está relativamente bem estruturada em termos de material humano, temos material de trabalho. Há por trás toda uma estrutura logística e física. O que falta, está sendo providenciado.

CO Popular - E quanto a capacitação dos policiais?
Anaíde Barros – Estamos sempre fazendo cursos e mais cursos, tanto em nível estadual como nacional. Todos aqui fazem cursos, principalmente científico, pois como todos sabem que as investigações dos crimes contra a vida são diferenciadas.

CO Popular – A DHPP ainda esbarra em dificuldades nos locais dos crimes? Por exemplo, o local onde está um corpo deve ser preservado?
Anaíde Barros – Não. Não pode. A Polícia Militar faz bem esse trabalho que é o papel dela. E muitas vezes a PM ainda ajuda nas buscas e nas investigações de locais de crimes.

CO Popular – Então o local do crime é quase como “um local sagrado” para as investigações?
Anaíde Barros – Sagradíssimo. Aliás, devo destacar que é do local do crime que conseguimos desvendar grandes mistérios. Lá a PM faz a preservação do local. A Perícia Técnica faz os exames e as perícias preliminares. Nosso pessoal faz a liberação do corpo. Os técnicos do Instituto Médico Legal (IML) fazem a remoção e depois a necropsia. Todas as etapas são importantes. Estamos sempre atrás de vestígios que geralmente os assassinos deixam. Para isso as perícias são muito importantes.

CO Popular – Um homem já confessou dois crimes. Ele matou duas mulheres. Há outras cinco mortas no mesmo local e assassinadas do mesmo jeito. Ele é o autor de todos os cinco crimes ou ainda existem mais vítimas desse homem, um autêntico serial killer?
Anaíde Barros – Nós acreditamos que ele esteja envolvido em todos os cinco crimes, pois todas as vítimas eram mulheres. Todas usavam droga como ele usava e todas foram estranguladas e mortas no mesmo local.

CO Popular – Qual o índice oficial sobre motivação de crime?
Anaíde Barros – Hoje o índice oficial dos motivos de crimes contra a vida são homicídios, tentativas de assassinatos, lesões corporais seguidas de morte e latrocínio - roubo seguido de morte é de 74%, muito alto para apenas duas cidades: Cuiabá e Várzea Grande com menos de um milhão de habitantes.

CO Popular – Ou seja, de cada 100 assassinatos, 74% tem como motivo a droga?
Anaíde Barros – A droga está presente em tudo o que é ruim, mas o mais grave mesmo são os assassinatos, o último estágio da violência. Confirmamos nas investigações que a droga está entre os ladrões que se matam para dividir as drogas ou os produtos roubados. Está entre os usuários que compram, não pagam e são executados. E está entre os próprios traficantes, que se matam em busca de pontos melhores para vender seus produtos.

CO Popular – A polícia, principalmente a DHPP, ainda trabalha na base da violência?
Anaíde Barros – Eu, sinceramente, nunca soube que os policiais da DHPP trabalhassem com violência para arrancar confissões. Até porque eu nunca recebi nenhum tipo de denúncia até hoje. Trabalhamos sim, com inteligência. Temos armas, temos coletes, temos celulares, temos tudo para realizar um trabalho a altura dos padrões nacionais e internacionais de investigação. Afinal de contas, todos sabem que as investigações da DHPP são diferenciadas. Vamos ao local do crime e fazemos um trabalho minucioso de coletas de dados e vestígios. Ouvimos as pessoas que moram próximas ou que viram alguma coisa. Ouvimos amigos e parentes das vítimas, para daí chegarmos a um ou mais suspeitos. Confirmada a autoria, partimos para as representações de prisões preventivas ou provisórias. Assim que nós trabalhamos.

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